Entrevista com o Txai Terri Aquino – Coluna Papo de Índio


Por em 20 de agosto de 2020



O antropólogo Terri Valle de Aquino é a essência do indigenismo no Acre.Fez história quando adentrou as cabeceiras do rio Jordão em meados da década de 70, para realizar sua pesquisa de mestrado, e se deparou com índios seringueiros em situação de escravidão. Sensibilizado com a realidade injusta que encontrou, logo se colocou ao lado dos índios e com eles continua até hoje.

Terri que há muito já virou Txai, título que lhe foi conferido pelos Huni Kuĩ, e quer dizer mais que amigo, continua viajando por longos períodos para as terras indígenas, celebrando, apoiando e divulgando a importância da existência dos povos indígenas, e nos últimos anos participando de longas dietas com o uso de plantas de poder, a exemplo o raremuka.

O Txai Terri é um dos fundadores da Comissão Pró Índio do Acre (CPI-Acre), entidade indigenista que completou 40 anos em fevereiro passado, em um momento cheio de incertezas e desafios. A luta, que parece não ter fim, continua sendo pela proteção e garantia dos direitos indígenas. Em um cenário como esse, as celebrações se tornam resistência, os desafios aumentam, mas também encorajam.

Com esse sentimento inaguramos as atividades do Abril no Acre Indígena – 2019, apresentando ao leitor uma entrevista com o Txai, que compartilha suas percepções sobre a chegada de um novo momento histórico. Terri lança luz sobre as crescentes manifestações da cultura e espiritualidade na construção da territorialidade dos povos indígenas no Acre e fala da relevância de se manter o reconhecimento e as condições que contribuam com a integridade destes povos.

Papo de Índio- Você tem discutido a importância do governo do Acre prosseguir com os investimentos nas terras indígenas, mostrando inclusive que uma ruptura na gestão não deve ser inconseqüente a ponto de trazer prejuízos para o estado de modo geral…

Txai Terri – São 28,9 milhões de reais para investir nas terras indígenas do Acre. Mais de 6 milhões oriundos do Programa REM-Acre; quase 19 milhões previstos pelo Banco Mundial para o Proser e 3.600 milhões do Fundo Amazônia.No caso do REM a única contrapartida é diminuir a taxa de desmatamento no estado. Resta saber se isso interessa politicamente ao governo, já que o modelo de desenvolvimento apontado é o de plantio de soja e outras commodities. Esse é o problema e acho que é interessante colocar.

Outro ponto é ver quais as ações previstas para serem apoiadas com esses recursos. São Planos de Gestão Territorial e Ambiental das Terras Indígenas, a remuneração dos AAFIs [Agentes Agroflorestais Indígenas], apoio aos festivais culturais nas aldeias, formação dos AAFIs, apoio a governança do SISA. Isso é importante ressaltar, pois é um recurso de doação e não vai custar nada, além desse compromisso político de redução de desmatamento, para que o Banco KfW realmente efetive a continuidade do Programa REM. E os índios estão sinalizando a importância e a necessidade da continuidade desse apoio, que é a única fonte que tem para dar continuidade a esse trabalho dos Agentes Agroflorestais. Eles prestam serviço muito importante não só para as suas terras indígenas,mas para o estado, o Brasil e para o planeta Terra. E outra coisa, eu tenho escutado alguns comentários, inclusive de secretários [de Estado], dizendo que remunerar os Agentes Agroflorestais Indígenas é uma forma de paternalismo. Eu quero ressaltar que a bolsa dos AAFIs, além de ser uma remuneração justa pelo trabalho importante que eles realizam para a proteção das florestas, é um recurso que movimenta a economia dos municípios. Os agroflorestais não vão comer dinheiro não! Eles vão comprar alguma coisa para suas necessidades básicas e isso fortalece a região. Vai comprar de quem? Dos comerciantes locais e isso faz girar a enconomia do município, entende? Isso tem um efeito positivo na economia local, sobretudo para os municípios mais afastados como Jordão, como Santa Rosa, Marechal Thaumaturgo, Porto Walter. Tem que ter essa visão mais ampla, pois são fontes de recursos que entram nos municípios e ajuda todo mundo.

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